Leiam este artigo: A História se repete como farsa
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Por Márcio Amaro
É de Karl Marx a frase que nos ensina que a História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda vez como farsa. Inicio esse texto com um aforismo do pensador comunista do século XIX para que os leitores não pensem que desconsidero qualquer tipo de conhecimento, independente de sua origem. Lazarillo de Tormes, obra apócrifa que encerrou o medievo espanhol, citando Plínio, ensina que nenhum livro é tão ruim que não possa transmitir algum conhecimento. Acredito que esse pensamento possa ser estendido também para filósofos e afins.
Desde que a Europa se estabeleceu como força motriz do conhecimento ocidental, uma determinada história tem se repetido: as tentativas sucessivas de estabelecimento de um poder global formatado a partir de diretrizes emanadas por órgãos ligados ao Velho Continente.
Se viajarmos no passado, veremos que há milhares de anos essas tentativas já se faziam presentes. Não foi outra a intenção de Alexandre, o Grande, senão dominar o mundo conhecido, impor a superioridade da cultura grega ao Oriente, e unificar o mundo em um processo posteriormente conhecido por Helenização. Essa teria sido a primeira tentativa de unificação forçada por imposição cultural. Tal intento, contudo, não sobreviveu ao gênio militar inquieto do rei macedônico, cujas conquistas acabaram sendo distribuídas entre seus generais, após sua morte prematura.
Mas os europeus nunca desistiram de impor sua supremacia sobre os demais povos e os romanos estiveram bem próximos disso ao consolidarem o domínio sobre todo o Mediterrâneo e suas ricas rotas de comércio. O oriente deixara de ser um inimigo a ser conquistado. O objetivo agora seria garantir o enriquecimento através da disponibilização de produtos exóticos, mantendo afastados seus potenciais inimigos através da manutenção de um sistema militar nunca antes estabelecido. A cultura romana, porém, nunca fora pródiga em produzir explicações fantasiosas para eventos naturais. Todos os mitos e deuses herdados dos gregos não eram mais eficientes para explicar as recentes descobertas e a ciência entra em guerra com a religião.
O problema foi resolvido importando-se de um povo constantemente humilhado por períodos de escravidão uma dissidência de sua fé. O mito judaico do Messias, ainda que rejeitado por judeus, foi incorporado à cultura romana por ordem de um imperador que desejava unificar um império dividido. Para um reino uno, uma religião única, universal, do grego katholika.
Por mais de mil anos a combinação entre poder temporal e poder espiritual possibilitou à Europa a manutenção de sua identidade. Mesmo em períodos difíceis, quando pareceu que a cultura oriental seria imposta, tendo adentrado os umbrais europeus pelas colunas de Hércules e dominado a Península Ibérica por sete séculos, a Europa soube resistir e se preparar para um novo ciclo de dominação.
No mesmo ano em que expulsaram os muçulmanos de seu território, os reis de Espanha financiaram a mais audaciosa expedição marítima em mais de dois mil anos. Partindo em direção ao ocidente, Colombo pretendia chegar à Índia e liberar o comércio de especiarias orientais, interrompido pela tomada de Constantinopla pelos turcos. O genovês pensou que tivesse cumprido sua missão. Morreu acreditando que havia chegado ao extremo oriente. Mas havia um continente no meio do caminho e logo os europeus perceberam que as riquezas das terras descobertas deveriam ser aproveitadas para o fortalecimento de suas coroas.
Adotou-se uma prática que seria comum a partir de então. Baseados em uma ideia-força inquestionável, os europeus respaldariam dominações sucessivas, destruição de culturas, tomada de terras, metais preciosos e aprisionamento de escravos. Esse processo foi bem descrito no livreto de Hernán Cortez sobre a conquista do México e a destruição da cultura asteca.
Contando com efetivo original de apenas 600 espanhóis, Cortez logrou converter uma série de povos indígenas que viviam subjugados pelo poder de Montezuma II.
Inspirado pela condução da verdadeira Fé aos povos pagãos, até então subtraídos da possibilidade de conhecerem o Deus Verdadeiro, Cortez marchou sobre o Império Asteca levando à morte centenas de milhares de nativos e consolidando a destruição de uma das mais avançadas culturas americanas do período pré-colombiano.
Ainda que as razões alegadas fossem nobres, possibilitar aos povos da América conhecer o Cristo Salvador, o resultados prático da ação foi catastrófico para os nativos e bastante compensador para a Espanha.
Fenômeno semelhante ocorreu nas terras do Novo Mundo que couberam a Portugal, pela partilha realizada pelo Papa Alexandre VI, espanhol de nascimento, a qual os demais países da Europa não aceitaram muito bem, sendo esse um dos motivos políticos da Reforma Protestante.
A exploração de uma ideia-força e o aproveitamento de divisões internas nas regiões a serem dominadas foi uma prática constante empreendida pelas potências europeias. Foi assim que o pequeno Portugal conseguiu estabelecer seu poder na Índia. Assim Pizarro conquistou o Império Inca e, passados alguns séculos, foi assim que a Europa se lançou sobre a África e a Ásia, empreendendo uma das mais terríveis ações imperialistas.
Ao final do século XIX, alguns países europeus se ressentiam de colônias fornecedoras de matérias primas para suas fábricas, uma vez que os próprios europeus já haviam praticamente esgotado seus próprios recursos, com completa desatenção ao meio ambiente. Coube ao rei de Bélgica sugerir um novo processo expansionista, dessa vez sobre a Ásia e a África. A ideia força dessa vez não seria a Fé, mas a civilização, sendo considerada uma missão para os brancos civilizados levarem as benesses da ciência e cultura aos povos atrasados.
Para respaldar essa ação, uma pseudociência racial foi desenvolvida em todos os países da Europa. Tal pensamento foi a raiz das enormes catástrofes raciais ocorridas no século XX e que produziram dezenas de milhões de mortos.
O tempo insiste em passar, trazendo novos conceitos, novos métodos, mas os antigos hábitos dos povos são difíceis de serem superados.
Hoje não caberia mais uma ação imperialista embasada em poder militar, questões religiosas, nem tampouco em superioridade racial. Era necessário um novo argumento, uma nova técnica. Algo que fosse universalmente aceito como verdade absoluta. Os europeus acharam a receita: o clima.
Por mais contraditórias que sejam as previsões climáticas e por menor que seja a correlação entre a quantidade de carbono na atmosfera com a temperatura terrestre, em todos os períodos geográficos do planeta, consolidou-se a narrativa que a ação humana está gerando gases de efeito estufa, principalmente o gás carbônico.
As culturas hegemônicas, particularmente nações europeias e os Estados Unidos, que tão rapidamente dilapidaram seus próprios patrimônios ambientais, sendo nações de industrialização arcaica, agora impõem comportamentos restritivos à exploração dos recursos naturais de outras nações que nunca tiveram a liberdade de explorarem seus potenciais de crescimento econômico, nem mesmo seus próprios recursos naturais.
O argumento para a interferência já está estabelecido. Foi construído ao longo de décadas, financiando pesquisas, comprando resultados, desenvolvendo sistemas computacionais tendenciosos, implantando inteligências artificiais que petrificam o conhecimento, financiando ONGs, Institutos, Fundações, criando cursos específicos, formando mestres, doutores... E nesse processo, qualquer voz dissonante deveria ser silenciada.
O Brasil, nesse contexto, é um alvo absolutamente compensador. Apesar de termos um dos códigos ambientais mais desenvolvidos do mundo, uma matriz energética de baixo carbono, uma das melhores relações PIB/emissão CO2 do planeta, estamos constantemente sob as vistas daqueles que se dizem preocupados com a saúde de nosso planeta, mas que não deixam de utilizar suas usinas termoelétricas quando a situação exige, nem mesmo reduzem os níveis de consumo de suas populações para poupar os recursos naturais não renováveis.
Na prática, ao que parece, a História está mais uma vez se repetindo, como farsa. As nações hegemônicas sabem que o mundo não suporta níveis de consumo médio semelhantes para oito bilhões de pessoas. Sabem também que pouco controle podem ter sobre a China e a Índia, países cujas populações somadas chegam a um terço da espécie humana. Criaram então uma realidade bastante conveniente que não lhes tira a capacidade de produção, não lhes reduz o nível de conforto, mas transfere para outras nações a responsabilidade pelo equilíbrio ambiental, ao mesmo tempo que lhes garante uma reserva de commodities para suas futuras gerações. Dentre essas nações, as que mais se destacam são justamente o Brasil, Congo e Indonésia.
O Congo, tão castigado por belgas durante o ciclo imperialista do século XIX, vê-se mais uma vez restringido em seu potencial por manipulações climáticas de povos que não se constrangem em operar minas de cobalto em terras congolesas utilizando trabalho análogo à escravidão realizado por crianças, para a fabricação de baterias “não poluentes” para veículos europeus.
A intenção das nações ricas está materializada em um documento chamado Agenda 2030, assinado pela ONU, onde são descritos 17 objetivos estratégicos, chamados pelo bonito nome de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Com relação ao Brasil, a exploração de dissidências internas parece ser mesmo uma constante na atuação dos países – ou grupos – que buscam impor suas próprias diretrizes à exploração de recursos que não lhes pertencem. A instituição nacional mais alinhada com a Agenda 2030 é o STF. Ainda que essa decisão não seja ação precípua da corte, diversos ministros já declararam seus particulares alinhamentos com as definições emitidas por autoridades supranacionais.
Evidentemente, o Presidente Bolsonaro se opunha a esse tipo de imposição contra a soberania brasileira. Talvez esteja aí um dos motivos que levaram ao ministro Barroso declarar tão entusiasmadamente que havia vencido ao bolsonarismo, por ocasião de um ataque sincericida em evento de natureza política na UNE.
Talvez também aí esteja um dos motivos que fizeram com que Lula fosse tirado da cadeia e habilitado a concorrer à presidência da República. Em seu discurso realizado no Egito, em uma simulação do que seria a COP 27, em evento promovido por governadores do Norte do Brasil, Lula declarou que as decisões tomadas por agentes globalistas deveriam entrar em vigor no território nacional, mesmo sem o aval da população ou de seus representantes eleitos.
Essa relativização da soberania nacional não encontra eco apenas no atual mandatário, reabilitado pelo STF, mas até mesmo militares de alta patente manifestam a convicção de que essa relativização da soberania deve ser encontrada para garantir a saúde climática do planeta.
O general Etchegoyen, militar altamente credenciado diante do Alto Comando do Exército, ainda que atualmente na Reserva, dirige juntamente com o ex-ministro Raul Jungmann uma seção do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), denominada Soberania e Clima. Etchegoyen defende a relativização da soberania brasileira nos assuntos climáticos, particularmente no que se refere ao manejo da Floresta Amazônia, nada mais do que metade do território brasileiro.
Outro militar do mais alto posto que parece também estar interessado em atender aos interesses globalistas é o general Fernando Azevedo, ex-ministro da Defesa do presidente Bolsonaro, que, com o mesmo ex-ministro Raul Jungmann, dirige o Instituto Brasileiro de Mineração. Dentre as atividades do Instituto, destaca-se o acompanhamento da extração do lítio do Vale do Jequitinhonha. Lítio esse, a exemplo do cobalto congolês, utilizado para produzir baterias para os veículos europeus que depois serão exportadas para o Brasil a preços absurdos.
No dia 20 de junho de 2023, outros dois generais participarão de atividade do IREE, ministrando palestra sobre a Defesa Nacional: o comandante do Exército, general Thomaz e o general Soares, Chefe do Estado Maior do Exército.
A depender das exposições feitas nessas palestras, poderemos saber se esses generais também estão com seus futuros garantidos após o término de suas carreiras militares.
Nenhuma nação ou grupo estará mais interessado no sucesso do próximo do que em seu próprio bem estar. As nações hegemônicas desenvolvem prospecção de cenários sob complexas condições para empreenderem políticas e estratégias que lhes garantam a manutenção de seu status quo milenar de poder. Para tanto, contam não apenas com seus próprios méritos, mas também e infelizmente, com pessoas que valorizam mais seus benefícios próprios e momentâneos que os interesses de sua própria Nação e seu próprio povo.
A dominação das nações hegemônicas sobre os povos tradicionalmente explorados, incluindo o Brasil, está se repetindo. Sabemos que como farsa.
Marcio Amaro - Presidente do Instituto Brasil Soberano