Meus comentários sobre o editorial do Estadão do qual todos estão falando
Vejam primeiro o bom editorial publicado pelo Estadão no fim de semana. Volto em seguida:
A intolerável intolerância progressista
Cada vez mais a esquerda iliberal se crê autorizada a empregar todo e qualquer meio, solapando a ordem jurídica e o processo democrático, para impor seus fins messiânicos.
Está em curso uma campanha, em boa parte promovida pelos integrantes do Executivo, de discriminação e no limite criminalização das pautas de direita, como se a disputa entre progressistas e conservadores fosse uma batalha existencial da civilização contra a barbárie.
A pretensão do PT ao monopólio do bem e da verdade é constitutiva. Expoentes da direita sempre foram demonizados como “fascistas” e “inimigos do povo”. Mesmo a outros progressistas a oferta do partido se resume à vassalagem ou à apostasia. Toda crítica é desmoralizada como conspiração das “elites”. Ainda hoje o partido exige reparações pelo “golpe” do Legislativo e do Judiciário em Dilma Rousseff e por sua “perseguição política” a Lula e outros “guerreiros do povo brasileiro” flagrados em tramoias antirrepublicanas, como no mensalão e no petrolão.
O jihadismo esquerdista encabeçado pelo lulopetismo frequentemente foi propagado por setores que, marcados, por razões históricas e sociológicas, por uma hegemonia progressista, funcionam como sua caixa de ressonância, como a academia, redações ou a chamada classe artística. Na última geração, a intolerância maniqueísta das vanguardas da “luta de classes” foi inflamada pelas pautas identitárias da nova esquerda.
Para a esquerda iliberal, as responsabilidades individuais são dissolvidas em “estruturas” de opressão. Nesse estado de espírito paranoico, não basta não ser racista, misógino, homofóbico; quem não é ostensivamente “anti”, quem não milita pela causa, quem não faz rituais de expiação pelo mero fato de ter uma determinada cor de pele, pertencer a um gênero ou ter uma orientação sexual é desmoralizado como uma peça da máquina de opressão. A política é submetida a emoções tribais e quem questiona a pureza ideológica dos redentores deve ser disciplinado, punido ou mesmo eliminado do debate público por tribunais midiáticos e campanhas de “cancelamento”.
Considerem-se alguns debates recentes, como a exploração de novas fronteiras petrolíferas, a demarcação de reservas indígenas ou a legalização do aborto. Em todos esses casos, não há uma disputa inequívoca entre o bem e o mal, mas zonas de conflito entre bens juridicamente tutelados. No caso da exploração de petróleo na Margem Equatorial, por exemplo, há uma equação entre riscos ambientais e ganhos socioeconômicos; no caso das reservas indígenas, entre os direitos dos povos originários e os de proprietários (muitas vezes indígenas aculturados) de boa-fé; no caso do aborto, entre a autonomia das mulheres e a vida do nascituro. Além do mérito, há a questão da competência para arbitrar esses conflitos, por exemplo, entre o Legislativo e o Judiciário.
Mas os progressistas iliberais se creem portadores de verdades absolutas e condutores da História legitimados a empregar quaisquer meios para a consumação de seus fins. O mero questionamento é denunciado como “violência”. A reação em defesa de direitos plausivelmente legítimos é anatematizada como reacionarismo. As teses de quem advoga por explorar as riquezas do petróleo, por garantir as propriedades de agricultores ou por preservar a vida do nascituro não são meramente objetadas, com base na Constituição, em função de supostas lesões a direitos do meio ambiente, dos indígenas ou das mulheres, mas recriminadas como ataques de predadores desalmados.
Isso exprime uma visão da vida pública típica de um Estado confessional, do tipo que o liberalismo veio a superar com a instauração do Estado Democrático de Direito e o princípio de que o progresso humano deve ser conquistado por debates, negociações e reformas. A direita iliberal representa uma ameaça a esse marco civilizacional, como se viu no 8 de Janeiro. Mas, ao equiparar todos os seus críticos a “extremistas” dignos de serem alijados da vida pública, a esquerda iliberal também é uma ameaça, não tanto pelos seus ideais, em princípio tão legítimos quanto os de seus adversários, mas pelos seus métodos: a intimidação, a censura, a ruptura, a imposição. Numa democracia, essa intolerância é intolerável.
Comento:
O Estadão aborda com acerto o crescente avanço da intolerância ideológica e da censura no Brasil, temas sobre os quais eu (e outros) temos gritado com todo ar que há nos nossos pulmões há ANOS. A postura do ex-jornal é, portanto, "too little, too late" (muito pouco, muito tarde). O barco já está naufragado, e agora o Estadão decide que talvez seja hora de ligar o alarme?
Ora, foi este o jornal que frequentemente adotou uma postura de falsa equivalência entre Lula e Bolsonaro durante as eleições, uma comparação que desmorona sob qualquer escrutínio mais atento. Durante o governo Bolsonaro, não houve jornalistas exilados, comediantes silenciados ou manifestantes da esquerda presos. Não houve canetadas contra o Congresso. Bolsonaro, ao contrário do que o Estadão dizia, nunca foi uma ameaça real à democracia.
Já o "jihadismo lulopetista", como bem coloca o editorial, é um fenômeno que não deveria surpreender a ninguém. Disso isso, pois Lula já dava indícios disso durante a campanha e foi questão de ser absolutamente explícito nos seus discursos de vitória e de posse - E EU AVISEI! Vejam o vídeo em anexo.
O silêncio do Estadão em quase todo momento foi ensurdecedor quando se tratou de defender vozes chamadas de "bolsonaristas". O Terça Livre foi fechado, Allan dos Santos teve a prisão decretada, e eu, Rodrigo Constantino e outros fomos censurados, tivemos bens bloqueados e até passaporte cancelado. Isso há dez meses e contando. O Estadão nada disse até hoje. Sabem por que? Porque, no fundo, concordam com o PT.
A divergência entre o Estadão, os chamado liberais e os lulopetistas é apenas na dose do remédio. Para eles, censurar Allan e Paulo Figueiredo é aceitável; agora, censurar o Monark já é demais. Eles também se mostram complacentes com as ações do STF, que mantém inquéritos claramente ilegais e prende quem estava no evento de 8 de janeiro, mas acham que talvez seja um pouco demais quando uma senhorinha de idade é sentenciada a apodrecer na prisão por quase duas décadas.
No fundo, o Estadão e toda essa turma da "direita permitida" são liberais uns de araque. Nunca escutaram Milton Friedman alertar que: "Uma sociedade que coloca a igualdade à frente da liberdade vai terminar sem nenhuma das duas."? Ou, melhor, o alerta de Friedrich Hayek em "O Caminho da Servidão": "A emergência de tirania é sempre acompanhada pelo silêncio dos covardes."?
É hora de escolher um lado na defesa da liberdade e da democracia. E os covardes que continuem em silêncio.