O anúncio do referendo de anexação foi feito pelo presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, da realização de um referendo com o objetivo de avaliar o apoio popular a uma antiga ambição venezuelana, representa uma grave e perigosa escalada na tensão entre a Venezuela e a Guiana em torno da disputa pela região de Esequibo.
Esequibo é uma área de aproximadamente 160 mil km2, o equivalente a mais de 70% do território guianense, localizada entre os rios Esequibo e Cuyuní. Trata-se de uma região extremamente rica em recursos naturais, contendo grandes reservas de ouro e outros minerais, além de recentemente descobertas reservas de petróleo e gás natural offshore.
A disputa territorial remonta ao início do século XIX, quando os britânicos obtiveram o controle da colônia de Demerara-Essequibo das mãos dos holandeses em 1814, contrariando os interesses de controle venezuelano sobre a área. Após décadas de uma infrutífera batalha diplomática e tensões crescentes, sobretudo com a descoberta de ouro em meados do século, um tribunal arbitral nos EUA acabou estabelecendo as fronteiras atuais em 1899.
A decisão reconheceu a soberania venezuelana sobre a foz do Rio Orinoco, uma importante vitória. Por outro lado, Esequibo foi inteiramente incorporada à Guiana Britânica, reacendendo o sentimento de perda e cobiça por parte dos venezuelanos.
Ao longo de todo o século XX, a Venezuela buscou formas de reaver o território, renovando a disputa várias vezes por meios diplomáticos e chegando a fazer ameaças veladas. Em 1962, poucos anos antes da independência guianense, as tensões chegaram a tal ponto que foi assinado o Acordo de Genebra de 1966, estabelecendo o marco para uma solução futura.
Em 2015, com a descoberta pela Guiana de grandes reservas de petróleo no litoral de Esequibo, o presidente venezuelano Nicolás Maduro radicalizou a disputa, chegando a ameaçar publicamente uma invasão militar. Diante das ameaças, a Guiana recorreu à Corte Internacional de Justiça em 2018.
O tribunal aceitou o caso em 2022, mas uma decisão final deve demorar anos. Buscando pressionar a corte e preparar o terreno para um avanço militar, Maduro decidiu convocar um referendo para demonstrar apoio popular à anexação.
Após a invasão russa da Ucrânia, o cenário de uma invasão venezuelana à Guiana deixou de ser apenas retórica e se tornou uma possibilidade concreta. Isso porque Maduro conta com o apoio do presidente Lula, que defende concessões territoriais ucranianas à Rússia para acabar com a guerra.
Dessa forma, embora uma invasão ainda seja improvável dadas as limitações materiais e humanas das forças armadas venezuelanas, o referendo de Maduro representa uma escalada extremamente perigosa. Caso ele decida seguir os passos expansionistas de Putin, contando com a neutralidade ou mesmo o apoio do Brasil, um conflito armado na América do Sul pode se tornar realidade.
A situação exige máxima atenção e uma postura firme da comunidade internacional pela integridade territorial e soberania da Guiana sobre Esequibo, a fim de evitar violações e uma guerra desnecessária na região.