A esposa de Clemilson dos Santos Farias, conhecido como "Tio Patinhas" e apontado como líder do Comando Vermelho no Amazonas, Luciane Barbosa Faria, esteve presente em reuniões com assessores do Ministro da Justiça, Flávio Dino, em duas ocasiões este ano. As visitas, que não aparecem nas agendas oficiais, envolveram discussões com Elias Vaz, secretário Nacional de Assuntos Legislativos, e Rafael Velasco Brandani, secretário Nacional de Políticas Penais, entre outros nomeados por Dino.
Representando uma ONG que advoga pelos direitos dos prisioneiros amazonenses, Luciane levou ao Ministério da Justiça questões sobre "revistas vexatórias" e um dossiê que detalha alegadas violações de direitos humanos por parte das empresas que gerenciam as penitenciárias locais.
Em publicações no Instagram, ela relatou avanços nas negociações para a abolição de tais revistas, embora não tenha especificado sobre qual votação se referia.
O processo penal que inclui Luciane e seu esposo, ao qual o Estadão teve acesso, os descreve como indivíduos de alta periculosidade. "Tio Patinhas", segundo relatos do Ministério Público do Amazonas, é extremamente cruel com devedores, geralmente recorrendo a soluções letais.
Luciane é acusada de ser a administradora financeira das operações do marido, envolvendo-se na lavagem de dinheiro e na aquisição de propriedades de luxo e empresas de fachada, o que a tornou uma figura de confiança dentro do Comando Vermelho.
Além disso, o patrimônio do casal apresentou um crescimento superior a 1000% entre 2012 e 2015, coincidindo com o período após a abertura de um salão de beleza por Luciane. A
ONG que ela representa, a Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), é acusada de atuar em defesa de membros do Comando Vermelho e está sob suspeita de ser financiada pelo tráfico de drogas. Segundo investigações, a ILA pode ser uma fachada que serve aos interesses da facção criminosa para consolidar poder político e garantir a perpetuação de suas atividades ilícitas.
Não apenas Flávio Dino, mas também Guilherme Boulos e André Janones
Após suas interações no Ministério da Justiça, Luciane Barbosa Farias, rotulada como a "dama do tráfico amazonense", encontrou-se com o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP), o candidato favorito da esquerda à prefeitura de São Paulo.
O encontro ocorreu em 4 de maio, apenas dois dias depois de Luciane ter se reunido com o secretário Nacional de Políticas Penais, e foi prontamente relatado no Instagram da Associação Instituto Liberdade do Amazonas, entidade presidida por ela. A "dama do tráfico" agradeceu a Boulos pela recepção e atenção à sua pauta.
Luciane, condenada junto com o marido, líder do Comando Vermelho no Amazonas, por crimes como lavagem de dinheiro e associação para o tráfico, cumpre sua sentença em liberdade.
A assessoria de Boulos comunicou que o deputado teve um encontro não planejado com ela no Salão Verde da Câmara, um local de acesso público, onde ouviu as demandas apresentadas por Luciane como representante do Instituto. Boulos não tinha conhecimento prévio do passado de Luciane, uma vez que encontros assim são frequentes e não permitem uma verificação antecipada dos antecedentes das pessoas que abordam os parlamentares. A defesa de Luciane alega atuação na defesa dos direitos humanos e na denúncia de torturas em presídios da região Norte.
A "Dama do Tráfico" também foi recebida por André Janones, conhecido por sua defesa ferrenha ao PT durante as eleições presidenciais e por sua recente admissão de espalhar fake news. Luciane registrou nas redes sociais seus encontros com Janones, assim como com outras figuras políticas, mostrando sua circulação livre pelos corredores do poder em Brasília, enquanto aguarda em liberdade a apelação de sua condenação por lavagem de dinheiro e associação ao tráfico.