HAIA - O Partido da Liberdade (PVV), conhecido por sua postura crítica à imigração e defesa da identidade nacional, liderado pelo experiente político Geert Wilders, parece ter vencido as eleições na Holanda, indicam pesquisas de saída divulgadas nesta quarta-feira. Este resultado representa uma mudança significativa no espectro político holandês e poderá ter repercussões além das fronteiras do país.
De acordo com a pesquisa da Ipsos, o PVV conquistou 35 assentos no parlamento, colocando-se à frente do bloco central-direita com 23 assentos e do bloco de esquerda com 26. Caso esses números se confirmem nos resultados finais, a vitória do partido de Wilders representará uma guinada para a direita, o que poderá despertar preocupações em Bruxelas — o PVV prometeu um referendo sobre a permanência dos Países Baixos na União Europeia.
"Isso pode não ser o que outros partidos na Europa ou em outros países defendem, mas, ei, isso é democracia", disse Wilders de 60 anos, ao votar.
A imigração foi um tema central da campanha eleitoral e a postura firme do PVV, incluindo o fechamento das fronteiras e a deportação de imigrantes ilegais, parece ter encontrado eco entre os eleitores holandeses.
Apesar do aparente triunfo nas urnas, ainda não está claro se Wilders conseguirá formar uma coalizão suficientemente ampla para governar de forma eficaz, já que os líderes dos outros três principais partidos afirmaram que não participariam de um governo liderado pelo PVV.
Kate Parker, do Economist Intelligence Unit, apontou que isso poderia levar a um "impasse constitucional" na quinta maior economia da UE.
Wilders, muitas vezes comparado ao ex-presidente dos EUA Donald Trump por seu estilo e retórica, tem centrado sua carreira política na luta contra o que ele chama de "invasão islâmica" do Ocidente. Contudo, durante a campanha, buscou moderar sua mensagem, afirmando que poderia colocar algumas de suas visões mais contundentes sobre o Islã "na geladeira".
O PVV defende uma posição clara em relação à soberania dos Países Baixos, com um manifesto que rejeita a influência do Islã nas instituições e propõe um referendo vinculativo sobre a saída da UE. Ainda assim, Wilders assegura que será primeiro-ministro para todos, "independentemente da religião, origem, sexo ou qualquer outra coisa", e destaca que a crise do custo de vida é uma prioridade maior.
As questões relativas à comunidade LGBTQIA+ foram um importante tema do recente Sínodo dos Bispos, indicando que o assunto está ganhando terreno dentro da Igreja Católica, apesar da "prudência pastoral" mencionada no documento poder ser usada para excluir minorias.
Na política externa, Wilders mantém uma linha que privilegia os interesses nacionais, com um manifesto que clama por "Países Baixos em primeiro lugar" e apoia a mudança da embaixada holandesa para Jerusalém em solidariedade a Israel, "um amigo próximo e a única verdadeira democracia do Oriente Médio".
Apesar dos desafios legais e das ameaças de morte que fazem com que viva sob proteção policial desde 2004, Wilders se mantém desafiador e comprometido com sua missão. Foi considerado culpado de discriminação em 2016 por comentários contra marroquinos na Holanda e já comparou o Corão ao "Mein Kampf" de Adolf Hitler, defendendo que ambos os livros deveriam ser banidos.
Com a vitória nas eleições, se confirmada, Wilders finalmente poderá ver sua previsão de décadas tornar-se realidade, consolidando sua posição como uma figura central no cenário político holandês.
Os Países Baixos (Holanda) são um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Tradicionalmente, a Holanda figura entre os maiores investidores estrangeiros no Brasil e é também um dos principais destinos das exportações brasileiras, especialmente de commodities como soja, minério de ferro e produtos agrícolas.
Em termos de classificação, os Países Baixos costumam estar entre os dez maiores parceiros comerciais do Brasil. Devido à sua posição estratégica na Europa e ao grande porto de Roterdã, que é o maior da Europa, os Países Baixos funcionam como um portal para a entrada de produtos brasileiros no continente europeu.
Além disso, a Holanda serve como uma espécie de centro logístico e de distribuição para muitas empresas internacionais, o que amplifica a importância das relações comerciais entre Brasil e Países Baixos. As trocas comerciais não se limitam a bens e incluem também serviços, investimentos e tecnologia.