Uma recente pesquisa conduzida pela Survation para o grupo Patriotic Millionaires dos Estados Unidos trouxe à tona um dado curioso: quase dois terços dos milionários dos vinte países mais ricos do mundo são favoráveis ao aumento de impostos sobre as camadas mais abastadas. O estudo entrevistou mais de 2.300 indivíduos, cada um possuindo ativos superiores a US$ 1 milhão (aproximadamente R$ 4,94 milhões), excluindo seus imóveis residenciais.
Apesar dessa aparente inclinação para a equidade fiscal por parte da elite financeira global, um contraste marcante emerge quando se observa as práticas efetivas desses mesmos milionários. Enquanto publicamente advogam por uma maior tributação sobre suas riquezas, muitos deles empregam estratégias de engenharia tributária para minimizar ou até eliminar seus impostos. Uma tática comum envolve a utilização de organizações não governamentais (ONGs) sob seu controle. Estas entidades, frequentemente apresentadas como instrumentos de filantropia e bem social, podem ser utilizadas para desvios fiscais, permitindo que os milionários canalizem fundos de maneira que reduzam suas obrigações tributárias.
A pesquisa revelou que 58% dos milionários entrevistados apoiam a implementação de uma taxa de 2% sobre fortunas acima de US$ 10 milhões. Além disso, 54% reconhecem que a riqueza extrema pode representar uma ameaça à democracia. Essas perspectivas parecem indicar uma consciência crescente sobre as disparidades de riqueza, agravadas durante a pandemia de COVID-19, e suas possíveis repercussões na estabilidade social.
No entanto, a realidade dos números apresenta um quadro diferente. Conforme um relatório da Oxfam, apresentado em Davos, as fortunas dos cinco homens mais ricos do mundo – incluindo nomes como Elon Musk, Bernard Arnault, Jeff Bezos, Larry Ellison e Warren Buffet – mais que dobraram desde o início da pandemia em 2020, atingindo um valor total de US$ 869 bilhões em 2023. Em contraste, cerca de 60% da população mundial, aproximadamente 4,77 bilhões de pessoas, experimentou uma diminuição de 0,2% em seu poder aquisitivo real no mesmo período.
Estes números lançam uma sombra sobre a retórica de alguns milionários que defendem maior taxação, enquanto simultaneamente se beneficiam de mecanismos para reduzir seus próprios impostos.