De acordo com a revista VEJA, um relatório elaborado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sob a direção de Alessandro Moretti, então segundo em comando e mais tarde exonerado, colocou o governo sob escrutínio em 8 de janeiro. Desde o início da administração de Lula, a Abin tem sido alvo de desconfianças.
A Polícia Federal (PF), seguindo ordens de Andrei Rodrigues, futuro diretor-geral, adotou várias medidas para limitar a influência dos funcionários da Abin, incluindo o bloqueio de acesso à sede do governo de transição e a recusa de equipamentos fornecidos pela agência.
Havia preocupações de que a inteligência, naquela época sob a égide do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo general Augusto Heleno, pudesse estar conduzindo espionagem contra membros do Partido dos Trabalhadores. Com a posse de Lula, a Abin foi removida do GSI e incorporada à Casa Civil, em uma tentativa de apaziguar as tensões, embora as relações continuassem estremecidas.
A relação entre a PF e a Abin foi caracterizada por conflitos, especialmente devido à manutenção, por parte de Luiz Fernando Corrêa, diretor da Abin, de indivíduos associados a Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem em posições de confiança. Moretti, em particular, tornou-se um foco de desconfiança e acabou sendo demitido por Lula, evidenciando a tensão interna.
Altos funcionários do governo, como o ministro da Justiça Flávio Dino, tentaram intervir contra Moretti, que foi colaborador de Anderson Torres, ministro de Bolsonaro, na secretaria de Segurança do Distrito Federal. Lula, contudo, afirmou que deu autonomia a Corrêa para formar sua equipe, evitando interferir nas nomeações.
Durante as investigações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os eventos de 8 de janeiro, Moretti apresentou um relatório acusando o Ministério da Justiça e o então chefe do GSI, Gonçalves Dias, por falhas que contribuíram para os ataques aos Três Poderes.
Esse movimento provocou uma forte reação de ministros como Rui Costa e Alexandre Padilha, que questionaram a postura da Abin, percebendo-a como uma tentativa de prejudicar Lula e seu governo. Corrêa defendeu sua lealdade ao presidente, mas o relatório acabou sendo descartado, com governistas argumentando que o conteúdo era insubstancial.
Esta não foi a única ocasião em que relatórios da Abin foram recebidos com ceticismo por aliados de Lula, que criticaram a qualidade das informações fornecidas. Além disso, a Abin foi acusada de obstruir investigações da PF, especialmente por fornecer dados limitados de monitoramento através da ferramenta FirstMile. Posteriormente, descobriu-se que a agência realizou mais de 60 mil consultas, muitas delas concentradas durante as eleições de 2020, com os dados armazenados em um servidor israelense.
Esperava-se que Lula usasse as investigações da PF como uma oportunidade para reformular a liderança da Abin, substituindo sua cúpula. Apesar das expectativas, o presidente optou por mudanças parciais, demitindo Moretti e outros quatro diretores, mas mantendo o diretor-geral no cargo.
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